A Atenção Farmacêutica realizada de forma adequada pode otimizar os gastos e favorecer o acesso da população ao medicamento e melhorar a resolutividade das intervenções de saúde.
No começo do século XIX a maioria dos medicamentos era de
origem natural, de estrutura química e natureza desconhecida (LAPORTE, TOGNONI,
ROSENFELD, 1989).
Após o ano de 1940, ocorreu a introdução maciça de novos
fármacos, que trouxeram à população possibilidade de cura para enfermidades
consideradas até então fatais, sobretudo no campo das doenças infecciosas. Em
contrapartida, gerou-se a intensificação e a utilização irracional dos
medicamentos, tornando-se um grave problema de saúde pública.
Em um encontro de representantes do Ministério da Saúde
brasileiro e de outros órgãos farmacêuticos da Europa, foi discutido sobre a
repercussão da promoção de medicamentos bem como seu uso indiscriminado. Neste
encontro foi avaliado que a indústria farmacêutica possuía um potencial de
marketing elevado, que contribuía para informações não objetivas e distorcidas
sobre medicamentos.
Como resultado desta reunião a OMS apontou em seu relatório
que a propaganda desenfreada realizada pelas indústrias farmacêuticas era um dos
principais motivos que propulsionavam o uso irracional dos medicamentos, que
incentivava o uso inadequado e que não esclarecia sobre os riscos maléficos que
uso destes medicamentos poderia causar (OPAS, 2002).
De acordo com a OMS (OMS, 1985) o uso racional do medicamento
ocorre quando se há a definição do diagnóstico do paciente, a definição do
tratamento seguro e eficaz, prescrição apropriada às necessidades baseadas em
evidências clínicas, com a dosagem e durações ajustadas à sua individualidade,
disponibilidade do medicamento no tempo oportuno e a preço acessível,
dispensação adequada, adesão ao regime terapêutico, e o acompanhamento do
tratamento e possíveis decorrências.
Dados de estudos históricos no mundo (OPAS, 2005) sobre o uso
racional de medicamentos mostram que o marketing realizado pelas indústrias
farmacêuticas é capaz de induzir a sua prescrição irracional, até mesmo em
países desenvolvidos, e que nos levaram a ter o seguinte quadro histórico em
alguns países:
* França, de 1975 a 1984: dos 508 novos produtos
farmacêuticos lançados nesse período, 70% não ofereciam vantagens
terapêuticas;
* Estados Unidos, de 1981 a 1988: de 348 novos medicamentos,
só 3% representaram contribuição importante em relação aos tratamentos já
existentes.
* Canadá, de 1990 a 2003: de 1.147 patenteados, apenas 5,9%
foram consideradas realmente inovadores.
No Brasil, segundo dados da OMS e OPAS de 2005 temos o
seguinte cenário:
* O número médio de medicamentos por prescrição foi de 2,3. O
estipulado como seguro pela OMS é de dois medicamentos por prescrição;
* 40% das prescrições continham infecciosos;
* 8% das prescrições continham medicamentos injetáveis;
* 80% dos pacientes com febre, em qualquer idade, receberam
prescrição de antitérmico;
* 30% das crianças com menos de 5 anos apresentando diarreia
receberam prescrições de antibióticos;
* 15% da população mundial consome mais de 90% da produção
farmacêutica.
* Até 70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento
correspondem a medicamentos, nos países desenvolvidos esse índice é menor que
15%.
* 50-70% das consultas médicas geram prescrição
medicamentosa.
* 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou
usados inadequadamente.
* Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente
seus medicamentos.
* Os hospitais gastam de 15% a 20% de seus orçamentos para
lidar com as complicações causadas pelo mau uso de medicamentos;
* De todos os pacientes que dão entrada em prontos-socorros
com intoxicação, 40% são vítimas dos medicamentos.
No Brasil, segundo informações do Sistema Nacional de
Informações Toxico-Farmacológicas (Sinitox), os medicamentos ocupam o primeiro
lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos e o segundo
lugar nos registros de mortes por intoxicação. A cada 20 segundos, 1 paciente
dá entrada nos hospitais brasileiros com quadro de intoxicação provocado pelo
uso incorreto de medicamento.
Segundo dados levantados pela CPI dos Medicamentos, em 2002,
no Brasil, 15% da população consome 50% do que se produz de medicamentos,
enquanto 51% entre os que ganham até quatro salários mínimos consomem 16% do
que é produzido (BRASIL, 2005).
Segundo a OMS o farmacêutico é o profissional mais
qualificado para desenvolver as atividades de Atenção Farmacêutica (A.F). A A.F
realizada de forma adequada pode otimizar os gastos e favorecer o acesso da
população ao medicamento e melhorar a resolutividade das intervenções de saúde
(MARIN, 2003).
Na atualidade clínica torna-se obrigatório uma abordagem
técnica ao paciente que garanta que o medicamento utilizado será eficaz ao
tratamento proposto com o menor efeito colateral possível. Até o momento as
etapas vencidas deslocam de forma definitiva os desafios os quais, se voltam
para a estruturação dos serviços farmacêuticos, visando uma abordagem voltada
para o cuidado com a saúde, para a capacitação de pessoas, a prescrição
racional e o devido monitoramento do tratamento proposto (DADÉR, 2007).
Diante deste contexto emerge a filosofia de trabalho de A.F
centrada no paciente como uma alternativa para alcançar o uso racional dos
medicamentos (REIS, 2008). É desenvolvida no âmbito da AF envolvendo os
preceitos de educação em saúde e o acompanhamento da farmacoterapia visando a
sua racionalidade, mensurando os resultados obtidos e contribuindo para a
qualidade de vida do paciente e é uma atividade inerente do profissional
farmacêutico (CONSENSO, 2002).
Autor: Dr. Ricardo Lahora Soares
Bacharel em Farmácia (1998) e Especialista em Farmácia Clínica e Hospitalar pela Universidade Prof. José de Souza Herdy – Unigranrio (2015). Exerce atividades no campo profissional desde 1998 tendo atuado em instituições públicas e privadas nos diferentes segmentos privativos do farmacêutico ocupando diversos níveis de complexidade. É membro atuante da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária (SBFC) e Coordenador da Câmara Técnica de Empreendedorismo do CRF/RJ. Há 13 anos ocupa o cargo de Gestor Farmacêutico e Responsável Técnico pela Drogaria Menor Preço ltda. Tem experiência na área de Gestão em farmácia com ênfase no comércio varejista, atuando principalmente nos seguintes temas: Farmácia Popular do Brasil, Educação em Saúde e Assistência Farmacêutica.
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