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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Marketing Farmacêutico e o Uso Racional de Medicamentos no Brasil e no Mundo

A Atenção Farmacêutica realizada de forma adequada pode otimizar os gastos e favorecer o acesso da população ao medicamento e melhorar a resolutividade das intervenções de saúde. 



            
No começo do século XIX a maioria dos medicamentos era de origem natural, de estrutura química e natureza desconhecida (LAPORTE, TOGNONI, ROSENFELD, 1989).

Após o ano de 1940, ocorreu a introdução maciça de novos fármacos, que trouxeram à população possibilidade de cura para enfermidades consideradas até então fatais, sobretudo no campo das doenças infecciosas. Em contrapartida, gerou-se a intensificação e a utilização irracional dos medicamentos, tornando-se um grave problema de saúde pública.

Em um encontro de representantes do Ministério da Saúde brasileiro e de outros órgãos farmacêuticos da Europa, foi discutido sobre a repercussão da promoção de medicamentos bem como seu uso indiscriminado. Neste encontro foi avaliado que a indústria farmacêutica possuía um potencial de marketing elevado, que contribuía para informações não objetivas e distorcidas sobre medicamentos.

Como resultado desta reunião a OMS apontou em seu relatório que a propaganda desenfreada realizada pelas indústrias farmacêuticas era um dos principais motivos que propulsionavam o uso irracional dos medicamentos, que incentivava o uso inadequado e que não esclarecia sobre os riscos maléficos que uso destes medicamentos poderia causar (OPAS, 2002).

De acordo com a OMS (OMS, 1985) o uso racional do medicamento ocorre quando se há a definição do diagnóstico do paciente, a definição do tratamento seguro e eficaz, prescrição apropriada às necessidades baseadas em evidências clínicas, com a dosagem e durações ajustadas à sua individualidade, disponibilidade do medicamento no tempo oportuno e a preço acessível, dispensação adequada, adesão ao regime terapêutico, e o acompanhamento do tratamento e possíveis decorrências. 

Dados de estudos históricos no mundo (OPAS, 2005) sobre o uso racional de medicamentos mostram que o marketing realizado pelas indústrias farmacêuticas é capaz de induzir a sua prescrição irracional, até mesmo em países desenvolvidos, e que nos levaram a ter o seguinte quadro histórico em alguns países: 

* França, de 1975 a 1984: dos 508 novos produtos farmacêuticos lançados nesse período, 70% não ofereciam vantagens terapêuticas; 
* Estados Unidos, de 1981 a 1988: de 348 novos medicamentos, só 3% representaram contribuição importante em relação aos tratamentos já existentes. 
* Canadá, de 1990 a 2003: de 1.147 patenteados, apenas 5,9% foram consideradas realmente inovadores. 
No Brasil, segundo dados da OMS e OPAS de 2005 temos o seguinte cenário: 
* O número médio de medicamentos por prescrição foi de 2,3. O estipulado como seguro pela OMS é de dois medicamentos por prescrição; 
* 40% das prescrições continham infecciosos; 
* 8% das prescrições continham medicamentos injetáveis; 
* 80% dos pacientes com febre, em qualquer idade, receberam prescrição de antitérmico; 
* 30% das crianças com menos de 5 anos apresentando diarreia receberam prescrições de antibióticos; 
* 15% da população mundial consome mais de 90% da produção farmacêutica. 
* Até 70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento correspondem a medicamentos, nos países desenvolvidos esse índice é menor que 15%. 
* 50-70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa. 
* 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente. 
* Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente seus medicamentos. 
* Os hospitais gastam de 15% a 20% de seus orçamentos para lidar com as complicações causadas pelo mau uso de medicamentos; 
* De todos os pacientes que dão entrada em prontos-socorros com intoxicação, 40% são vítimas dos medicamentos.

No Brasil, segundo informações do Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas (Sinitox), os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos e o segundo lugar nos registros de mortes por intoxicação. A cada 20 segundos, 1 paciente dá entrada nos hospitais brasileiros com quadro de intoxicação provocado pelo uso incorreto de medicamento.

Segundo dados levantados pela CPI dos Medicamentos, em 2002, no Brasil, 15% da população consome 50% do que se produz de medicamentos, enquanto 51% entre os que ganham até quatro salários mínimos consomem 16% do que é produzido (BRASIL, 2005)

Segundo a OMS o farmacêutico é o profissional mais qualificado para desenvolver as atividades de Atenção Farmacêutica (A.F). A A.F realizada de forma adequada pode otimizar os gastos e favorecer o acesso da população ao medicamento e melhorar a resolutividade das intervenções de saúde (MARIN, 2003).

Na atualidade clínica torna-se obrigatório uma abordagem técnica ao paciente que garanta que o medicamento utilizado será eficaz ao tratamento proposto com o menor efeito colateral possível. Até o momento as etapas vencidas deslocam de forma definitiva os desafios os quais, se voltam para a estruturação dos serviços farmacêuticos, visando uma abordagem voltada para o cuidado com a saúde, para a capacitação de pessoas, a prescrição racional e o devido monitoramento do tratamento proposto (DADÉR, 2007).

Diante deste contexto emerge a filosofia de trabalho de A.F centrada no paciente como uma alternativa para alcançar o uso racional dos medicamentos (REIS, 2008). É desenvolvida no âmbito da AF envolvendo os preceitos de educação em saúde e o acompanhamento da farmacoterapia visando a sua racionalidade, mensurando os resultados obtidos e contribuindo para a qualidade de vida do paciente e é uma atividade inerente do profissional farmacêutico (CONSENSO, 2002)



  Autor: Dr. Ricardo Lahora Soares

Bacharel em Farmácia (1998) e Especialista em Farmácia Clínica e Hospitalar pela Universidade Prof. José de Souza Herdy – Unigranrio (2015). Exerce atividades no campo profissional desde 1998 tendo atuado em instituições públicas e privadas nos diferentes segmentos privativos do farmacêutico ocupando diversos níveis de complexidade. É membro atuante da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária (SBFC) e Coordenador da Câmara Técnica de Empreendedorismo do CRF/RJ. Há 13 anos ocupa o cargo de Gestor Farmacêutico e Responsável Técnico pela Drogaria Menor Preço ltda. Tem experiência na área de Gestão em farmácia com ênfase no comércio varejista, atuando principalmente nos seguintes temas: Farmácia Popular do Brasil, Educação em Saúde e Assistência Farmacêutica. 

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