Ao servir a sociedade, o farmacêutico cumprirá seu papel social.
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Nas antigas boticas coloniais em geral, de propriedade de farmacêutico, o profissional pesquisava, manipulava e avaliava novos produtos. Uma das suas funções era garantir a pureza e a produção dos medicamentos de acordo com técnicas adequadas a sua época e também de atuar como educador em saúde do paciente sobre o uso racional do medicamento. Com esta forma de agir se obtinha um forte elo de ligação entre o farmacêutico e o paciente. Para se entender o processo de constante mutação que a profissão vive hoje é necessário entender o seu histórico que relatem algumas das principais alterações nas legislações ocorridas:
De
1930 a 1940 ocorreu à revolução
industrial farmacêutica no Brasil, a atividade de manipulação magistral foi
quase que extinta, com uma total descaracterização das farmácias e uma total alteração
da identidade do profissional farmacêutico;
Em
1960 ocorreu a tragédia com o uso da
talidomida e mostrou que a identidade do profissional farmacêutico necessitava
ser preservada para se garantir maior segurança no uso racional do medicamento;
No
início dos anos 70, o profissional
farmacêutico novamente desapareceu das farmácias e drogarias, pois passou a
assinar apenas a responsabilidade técnica pelo estabelecimento de saúde e
deixou de prestar a assistência junto ao público;
Em
1973, foi criada a Lei Nº 5991 que
dispõe sobre o controle Sanitário do comercio de drogas, medicamentos, insumos
farmacêuticos e correlatos;
Em
1988, foi então realizado a reforma
sanitária que foi incorporada com a Constituição Federal de 1988 e na Lei nº
8.080 – Lei Orgânica da Saúde – que originou e regulamentou o Sistema Único de
Saúde (SUS). O SUS reorientou o modelo assistencial para uma nova compreensão
onde a promoção da saúde e a prevenção de enfermidades se tornaram suas
principais diretrizes e passou a assegurar a toda sociedade o direito à
assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica (BRASIL, 1990). Neste momento,
com a inclusão da Assistência Farmacêutica (AF) no Brasil como uma
responsabilidade do SUS, o papel do farmacêutico ressurgiu.
Em
1999, a Lei 9787 Lei dos Genéricos foi
criada. Esta Lei estabelece o medicamento Genérico, dispõe sobre a utilização
do nome genérico em produtos farmacêuticos e dá outras providências.
Em
2002 no Brasil, os profissionais
conceituavam a AF de várias formas para regirem sua atuação, porém, somente com
a sistematização destes consensos foi criado um documento intitulado de
“Atenção Farmacêutica no Brasil: Trilhando Caminhos (IVAMA et. al., 2002).
Segundo
a proposta do Consenso Brasileiro, a prática de Atenção Farmacêutica se
fundamenta em seis componentes:
1.
Educação
em Saúde;
2.
Orientação
Farmacêutica;
3.
Dispensação;
4.
Atendimento
Farmacêutico;
5.
Acompanhamento/seguimento
terapêutico;
6.
Registro
sistemático das atividades, mensuração e avaliação dos resultados.
Em
2004 a publicação da Política
Nacional de Assistência Farmacêutica
(PNAF) surgiu com uma nova concepção da AF, que propôs transferir o foco
do medicamento para o usuário, tornando-se mais adequada aos princípios do SUS
(BRASIL, 2004).
Em
2007 BASTOS analisou que mesmo com
todo o contexto relatado ao longo do histórico da profissão que nas farmácias e
drogarias que os farmacêuticos entrevistados se sentiam muito menos preparados
que os balconistas que nelas atuavam, devido à ampla gama de nomes comerciais.
Em
2008, surgi a Resolução Nº 499 de 17
de Dezembro de 2008 que dispõe sobre a prestação de Serviços Farmacêuticos em
farmácias e drogarias;
Em
2009, a AF foi reconhecida e
regulamentada no Brasil pelo MS sob Portaria nº 2.982, de 26 de novembro de
2009 que estabeleceu as normas de execução e financiamento da AF na atenção básica
em saúde (BRASIL, 2009).
Em
2013 surgi a Resolução Nº 586 de 29 de
Agosto de 2013 que Regula a prescrição farmacêutica e dá outras providências e
no mesmo dia a Resolução Nº 585 de 29 de Agosto de 2013 que Regulamenta as
atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras providências..
Em
2014 é instituída a Lei 13.021, que
transforma a Farmácia em Estabelecimento de Saúde e estas deixam de serem
vistas como mero pontos comerciais e reforça ainda
mais o papel do farmacêutico nas farmácias e drogarias
O eixo das
transformações que vêm ocorrendo no seio da profissão é, de um lado, a mudança
do modelo de ensino dos cursos de Farmácia, que deixou de ser tecnicista para
se voltar a uma formação mais humanística, social, generalista, mas sem perder
o seu veio técnico científico, obviamente. As mudanças foram necessárias.
Afinal, o paciente usuário do medicamento é, antes de tudo, um ser social, que
nasce, vive, aprende, transfere conhecimentos, reproduz-se e morre. Para
compreendê-lo e prestar-lhe bons serviços, é preciso ser um farmacêutico dotado
de conhecimentos filosóficos, sociológicos, ontológicos e outros, além de
apurada visão social (SOUZA, 2009).
O Histórico mostra
a retomada do farmacêutico ao tempo das boticas para que se refaça o elo que
existia entre o paciente-farmacêutico e exigirá uma reorientação do modelo de AF.
Para tanto, o profissional deverá estar amplamente comprometido com a sua
função, atualizado sobre as doenças existentes e possuir conhecimentos clínicos
básicos sobre a semiologia das enfermidades, para que possa contribuir na
garantia que o medicamento seja dispensado com as informações mínimas com sua
correta indicação, forma de administração e posologia.
Agindo desta
forma corroborará na responsabilidade do
farmacêutico de proteger a sociedade dos efeitos indesejáveis dos medicamentos
que, quando usados sem o seu devido conhecimento, podem transformar-se em um
tóxico letal ou simplesmente não atingir o efeito desejável. Resumindo
contemplará a atenção para o Uso Racional do Medicamento.
Ao
servir a sociedade desta forma, o farmacêutico cumprirá seu papel social.
Autor: Dr. Ricardo Lahora Soares
Bacharel em Farmácia (1998)
e Especialista em Farmácia Clínica e Hospitalar pela Universidade Prof. José de
Souza Herdy – Unigranrio (2015). Exerce atividades no campo profissional desde
1998 tendo atuado em instituições públicas e privadas nos diferentes segmentos
privativos do farmacêutico ocupando diversos níveis de complexidade. É membro
atuante da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária (SBFC) e Coordenador da
Câmara Técnica de Empreendedorismo do CRF/RJ. Há 13 anos ocupa o cargo de Gestor
Farmacêutico e Responsável Técnico pela Drogaria Menor Preço ltda. Tem
experiência na área de Gestão em farmácia com ênfase no comércio varejista,
atuando principalmente nos seguintes temas: Farmácia Popular do Brasil,
Educação em Saúde e Assistência Farmacêutica.
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